O meu maior sonho
Há quem passe a vida a desejar ter filhos, casar, viajar para o Peru, ser médico, comprar uma casa de dois andares ou ver a aurora boreal. Eu desejava ter um cão.
Numa quarta-feira à noite, em novembro de 2008, os meus pais chegaram a casa e puseram-me no colo um cão bebé. Eu não soube o que fazer com aquele ser tão frágil, tão pequeno. Estava apática enquanto ele me cheirava, lambia e se aninhava em mim. Os meus pais disseram-me que era uma menina e pediram-me para escolher um nome, e eu ainda nem sequer tinha percebido que o meu maior sonho se estava a realizar.
A Inês, outrora grande amiga minha, ajudou-me do outro lado do ecrã com uma lista de nomes, e eu acabei por escolher o nome Daisy. Coincidentemente, ou não, daisies são as minhas flores favoritas, mas eu ainda não sabia disso.
A Daisy só tinha seis semanas quando chegou à minha vida. Fazia muito barulho de noite, chorava quando ouvia trovoada e ainda bebia leite do biberão. Adorava comer uma buchinha de pão, preferencialmente duro — zero desperdício desde bebé! :)
O meu entusiasmo com a Daisy era tanto que eu não queria ir para a escola. Mas ia. Ia e contava os minutos para poder voltar para casa e estar com ela. A Daisy era a minha melhor amiga. Ela não se importava com a minha aparência, com o meu estilo nem com o facto de eu ser pouquíssimo social. Ela amava-me como eu era e fazia questão de o mostrar com o olhar, com o balançar do rabinho e com os beijinhos que me dava a toda a hora. E dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, crescemos juntas. Éramos melhores amigas. Éramos uma da outra; pertenciamo-nos de um jeito que ultrapassa raça, cor, espécie, língua. Pertenciamo-nos porque o que nos ligava era algo superior a tudo isso. O que nos liga é algo superior a tudo isso.
A Daisy ensinou-me tudo o que sei sobre amor. Ensinou-me sem precisar de falar, sem saber ler, só existindo e sendo amor num corpinho peludo. A Daisy era amor.
A Daisy ensinou-me a ser responsável, a cumprir horários, a ser menos egoísta e a partilhar tudo, até mesmo a minha refeição favorita.
A Daisy ensinou-me que viver é mais do que nós, pessoas, simples pessoas, fazemos todos os dias.
A Daisy foi para o Céu no passado dia 26 de agosto — dia mundial do Cão e aniversário da morte da minha avozinha. Não há coincidências. Nunca houve, nunca haverá. Não na minha verdade.
A Daisy foi para o Céu e eu sei que ela precisava de ir porque estava cansada. Eu disse-lhe que ela podia ir, e ela esperou pelo dia "certo". Foi uma guerreira porque aguentou viver a velhice e todas as porcarias que a mesma lhe trouxe. Adormeceu junto a mim, na cama onde dormíamos juntas. Na cama onde o meu descanso nunca mais foi o mesmo desde então.
A Daisy foi o melhor cão do mundo por quinze, quase dezasseis anos. Nem todo o dinheiro do mundo é suficiente para parar o tempo. Ele, o tempo, é realmente o nosso maior inimigo. Não há dinheiro, oração, bruxaria, remédio ou revolta que lhe faça frente.
Tem doído como tudo. Sinto tanto a falta dela. Não passa. É saudade constante que está sempre presente, que se faz sempre sentir. Às onze da noite quando o quarto está escuro e tudo está em silêncio, e às quatro da tarde quando estou atrapalhada com trabalho. Talvez seja este o "preço a pagar" por a amar tanto.
Não há dia em que não pense nela e não sofra pela sua ausência física. Não haverá dia em que o meu coração bata e eu não pense nela e não sofra pela sua ausência física.