Obrigada
Durante muito tempo e em diferentes fases escutei também de diferentes pessoas que só quem tem um bichinho sabe o que é amar (tanto) um animal, e que, consequentemente, só quem tem um bichinho compreende a dor (imensa) que é perdê-lo. Acreditei nisso sempre e sempre com muita força. Entretanto a minha Daisy faleceu e eu percebi que a verdade não é bem assim.
Quando a Daisy adormeceu eu estava com ela. E depois, quando já nada a poderia trazer de volta, eu só queria um abraço do meu Paulito. Mas o meu Paulito estava a trabalhar. Não sabia de nada. Tive de aguardar quatro horas para receber aquele abraço.
Mandei uma mensagem à minha Daniela, porque a Daniela é a minha grande amiga. Ela sabe de tudo. Ela sabe das coisas triviais e das coisas que poderiam muito bem ser enfiadas numa caixa posteriormente fechada e queimada para que nunca o que lá foi guardado viesse a ser descoberto. A minha Daniela não me largou mais a mão. Ficou comigo, sempre a segurar-me, sempre a apoiar-me. Fez-me companhia e não me deixou sentir sozinha. Compreendeu o meu sofrimento. Escutou o meu choro e chorou comigo. Cantou para mim. Repito: não me largou mais a mão. Naquele dia, naquela noite e nos dias e noites seguintes. Sempre, como sempre.
O meu Paulito deu-me o abraço que eu tanto precisava. Ficou comigo na minha cama, a mexer-me no cabelo e a deixar-me chorar alto e baixinho, como eu quisesse. Deu-me conforto em palavras e não se quis ir embora mesmo já sendo tão tarde. O Paulito deu-me colo. Esquivou-se do trabalho e chegou à minha beira segundos antes de me levarem o corpo da minha Daisy para nunca mais ser visto, tocado e beijado por mim. Acho mesmo que houve vezes em que só fiquei de pé porque ele me segurou. Compreendeu e aceitou o meu silêncio durante minutos, horas, dias a fio.
Escrevo isto porque para mim hoje é óbvio: não é quem tem um bichinho que sabe o que é amar (tanto) um animal ou que compreende a dor (imensa) que é perdê-lo. A maior parte dos amigos e conhecidos que me deram palavras de apoio mínimas e apenas porque pronto, lá tem de ser, enquanto esperavam que eu ultrapassasse “a situação”, têm ou já tiveram bichinhos. A Daniela e o Paulo não. Não têm bichinhos. Têm empatia e não só acreditam muito no amor, como vivem por e para ele. Facto: não há muitas pessoas como a Daniela e o Paulo, tal como não havia (e não há!) muitos cães como a Daisy.