Somos todos substituíveis
Hoje no trampo o patrão perguntou como estava a correr o meu outro trabalho. Sei que é uma questão de tempo até ele me dizer que agora que eu tenho algo estável vai dar oportunidade a outra pessoa que precise do dinheiro - e eu super compreendo isso. A questão é que nada está estável na minha vida e eu sinto-me uma verdadeira inútil.
Já não é altura de errar, mas eu erro. Até quando acho que estou a fazer as coisas bem estou a errar. É impressionante esta minha capacidade de ser um zero à esquerda.
Dizem que todos erramos porque somos humanos, o que é muito bonito em teoria, mas na prática nenhuma empresa sobrevive de tentativas falhadas e boas intenções. Então, saber que sou parte do todo e que ainda assim não faço as coisas como era expectável, dá-me a ideia de que na realidade sou é um peso.
Também hoje me cruzei com as pessoas que me estão a substituir de um outro trampo que tive há uns anos. Dediquei-me tanto àquilo para um dia, quando encontrei um emprego aparentemente fixe, ser substituída com toda a leveza e facilidade do mundo.
Lá estavam eles a fazer o que durante anos fui eu a fazer, provavelmente a ter os mesmos pensamentos que eu tantas vezes tive e ainda assim a continuar como eu continuei.
Doeu. Pois claro que doeu. E depois o meu pensamento levou-me ao dia 31 de Outubro de 2021, quando liguei à antiga chefe para fazer uma questão e ela no fim me disse com uma naturalidade que até hoje não entendo: "ah, já agora... Amanhã já não precisas de vir. A dona Rosa está pronta para voltar. Hoje foi o teu último dia, depois combinamos para me entregares as chaves". Eu já sabia que estava apenas a fazer uma substituição temporária, mas ainda assim não consegui evitar sentir-me esborrachada, triste e indignada.
Somos todos substituíveis.
Uns mais do que outros.
Eu mais do que muitos.